Alento
dos fios, do tecer e das tramas
A exposição apresenta o trabalho de mulheres artistas que, a partir de diferentes contextos sociais e geográficos, utilizam a arte têxtil de forma expandida envolvendo ancestralidade e contemporaneidade, memória comunitária e intimidade, escuta coletiva e muitas trocas. Alentar, ou demorar-se, é um posicionamento contrário ao acelerar que vivemos hoje nos nossos modos de produzir, pensar e ser. Alento, refere-se à matéria invisível que dá corpo às obras que fazem parte da exposição, como o ar que respiramos, o fôlego e a coragem para seguir em frente.
A exposição pretende expandir o olhar para estas criações entendendo-as para além do seu carácter de intimidade, cotidiano ou mundano, mas como práticas atuais que refletem, expressam e criam modos contemporâneos de vida.
Artesãs de São Silvestre
Gimena Romero
Rita Huni Kuin
Rochele Beatriz
Sueli Maxacali
Tamara Andrade
Créditos das fotos: Mariana Kraus
Alento
dos fios, do tecer e das tramas
Nos últimos anos, as artes têxteis têm conseguido reivindicar novos espaços de visibilidade na produção artística contemporânea. Pouco tempo atrás, uma artista que se aventurasse na investigação plástica a partir das práticas artesanais rapidamente se veria no dilema de distinguir sua situação profissional entre a artesã e a artista. Essa discussão provavelmente ocorreria por toda a sua vida, e regressaria inevitavelmente a alguns pontos centrais dessa discussão: valor de mercado, produção em série versus obra única, encomenda ou projeto conceitual, arte como transcendência ou artes decorativas. Distinções entre arteterapia, arte útil e autonomia da arte também estão atreladas a essas questões, que assinalam o modo como o pensamento ocidental separou e hierarquizou categorias que, em outras sociedades, talvez não façam tanto sentido. Vale salientar que, historicamente, nessa divisão hierárquica, a origem, o gênero e a classe social da pessoa que pensa e executa o objeto afetam diretamente o valor simbólico e financeiro da obra.
Esta exposição, incialmente prevista para abrir em maio de 2020, atravessou a experiência pandêmica da qual ainda nos desentrelaçamos. Desde as primeiras pesquisas, tivemos muito claro o propósito de olhar para as artes têxteis produzidas por mulheres e mapear algumas possibilidades e intersecções. Os fios nos levaram a atravessar tempos e contextos e a entender que as linhas emaranhadas são território fértil para um conjunto de situações que envolvem ancestralidade e contemporaneidade, memória comunitária e intimidade, escuta coletiva, muitas trocas e um tempo que se distancia do imediatismo digital atual.
Para as artistas aqui reunidas, alentar parece ser um verbo que transpira calor e proximidade, em que o ato de urdir, costurar, bordar, tecer, pintar sobre tecido ou vestir alinhava projeções de futuro que retomam e reconectam heranças diversas. A linha urdida não é linear nem única. Com diferentes tecnologias que serpenteiam pelos tempos e pelas criações individuais, a trama transforma a fragilidade em rede e a domesticidade, em caminhos permeados de narrativas.
O alento pode ser o fôlego de que ainda precisamos para seguir resistindo em uma economia imperialista e patriarcal, que subverte continuamente a potência do fazer coletivo, artesanal e feminino. Essas mulheres, de agulha em punho, nos inspiram profundamente a exalar novos valores e contrapor violências normalizadas.
Célia Barros
Produção Executiva: Pinã Cultura
Expografia: Fernanda Carlucci
Design: Bloco Gráfico
Montagem fina: Install
SESC São José dos Campos/SP